Ataque a cães e medo: Ibama registra 11 casos de onças próximas a cidades do Pantanal

O documento publicado nesta quarta-feira (11), detalha aparição do felino em diversos dias e locais em Corumbá (MS).

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) publicou uma nota técnica com orientações de segurança para a população de Corumbá (MS), após ao menos 11 aparições de onças-pintadas próximo a residências no município.

O documento foi publicado nesta quarta-feira (11), em conjunto com técnicos e especialistas de vários órgãos com o objetivo de esclarecer a moradores, órgãos da istração pública e a imprensa em geral sobre o monitoramento das ocorrências de onças na área urbana da cidade e para contribuir a tomada de decisões dos gestores públicos.

A nota detalha o monitoramento das aparições relatadas por moradores da cidade. Em 24 de março, um cão foi atacado na região do Eco Parque Cacimba da Saúde. No dia 27 do mesmo mês, houve relato de outro ataque a cães na mesma região. Segundo moradores, dois animais foram levados por uma onça-pintada. Uma professora disse ter avistado o animal próximo ao Mirante da Capivara.

No dia 15 de abril, moradores relataram que cães haviam sido mortos sob suspeita de ataque. No dia seguinte, equipes do Instituto Homem Pantaneiro e da Polícia Militar Ambiental visitaram a região para instalar armadilhas fotográficas e análise de local. Na ocasião, foram encontrados rastros de onça a dois metros da casa dos moradores e ao longo de toda a estrada, além de ossadas de cães e outros animais.

No dia 18 de abril houve relato de uma onça-pintada avistada próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal, na Rodovia Ramon Gomes e depois na região do Armazéns Gerais Alfandegados de MS (Agesa), imediações da fronteira entre Brasil e a Bolívia.

No dia 20 uma onça-pintada foi flagrada por armadilha fotográfica na região da Cacimba. No mesmo dia, houve relato da predação de um cão na base da PMA.

Dois dias depois, o IHP instalou nova armadilha fotográfica na base da PMA. No dia 25 de abril, foi realizado evento de observação de fauna em zonas urbanas e ainda feito a limpeza da rua onde a onça-pintada foi avistada na área da Cacimba da Saúde.

Já em maio, dia 22, dois bolivianos gravaram imagens de uma onça-pintada na rodovia Ramón Gomes. No dia seguinte, o avistamento do animal ocorreu no Mirante da Capivara, durante tentativa de ataque a um cão. Imagens de câmeras de segurança flagraram a ação.

Ataque a cães e medo: Ibama registra 11 casos de onças próximas a cidades do Pantanal
Cães de uma família de Corumbá botaram onça-pintada para correr

Dia 26 foi instalada outra armadilha fotográfica novamente próximo à fronteira entre o Brasil e a Bolívia.

No começo deste mês (4) um pescador que vive na região do Mirante da Capivara relatou sobre avistamento de uma onça caçando ariranhas no Canal do Tamengo. Dia 5 foi realizada ação de educação ambiental na região do mirante.

A última aparição ocorreu no dia 6 de junho, onde câmeras de segurança registraram uma onça-pintada no quintal de uma casa na região do Mirante da Capivara. O animal foi afugentado por sinalização sonora.

Ataque a cães e medo: Ibama registra 11 casos de onças próximas a cidades do Pantanal
Cão atacada por onça no dia 24 de março em Corumbá(MS) e pegada do animal em frente a uma residência. — Foto: Ibama

Segundo especialistas pantaneiros, o aumento nos avistamentos de onças se dá por quatro possíveis fatores:

  • Cheia no rio Paraguai, oitavo maior em curso de água da América do Sul
  • Percepção aumentou devido à intensificação da comunicação entre moradores e órgãos ambientais
  • A presença de presas fáceis, como cães e bezerros, na área urbana
  • Os incêndios dos últimos anos

O biólogo e doutorando em ecologia ambiental Diego Viana explica que os incêndios provocam uma “reorganização espacial das espécies, o que pode alterar o comportamento e aumentar os avistamentos [em áreas urbanas]”.

Orientações à população

Evitar a circulação em áreas onde onças tenham sido avistadas. Mas caso precise ar por esses lugares, é importante levar consigo uma buzina de ar comprimido para ser usada em casos de encontros com os animais;

  • Manter lotes limpos e vegetação cortada;
  • Não realizar descarte de cadáveres de animais em terrenos baldios;
  • Instituir um sistema de monitoramento com patrulhas nas regiões afetadas;
  • Rondas em trechos de deslocamento para escolas;
  • Instalação de pontos de avisos físicos.

Ainda segundo a nota técnica, em casos de avistamento à distância, a orientação é não correr, não se aproximar, manter distância de no mínimo 100 metros, não ficar de costas para o animal e tentar fazer bastante barulho. Além disso, é essencial que seja comunicado em grupos e canais oficiais com horário, local, comportamento do animal e se possível GPS.

Caso o encontro com o animal seja menor a 30 metros também não é recomendado correr, de preferência ficar em pé, mostrar-se grande e fazer barulhos firmes como falar alto e bater palmas. Crianças devem estar no colo. Em seguida, deve se afastar lentamente, sempre de frente para a onça. Manter portas e portões fechados.

“Acidentes com qualquer animal ocorrem quando o ser humano assume um comportamento desrespeitoso e prepotente em relação ao animal. Animais geralmente atacam quando estão acuados, quando não possuem ponto de fuga. Sempre dê alternativas para que uma onça fuja do local. Não engaje em uma tentativa de enfrentamento ou captura”, diz o documento.

Manifestação de moradores

Moradores de Corumbá (MS) e Ladário (MS), municípios às margens do rio Paraguai, afirmam que a aproximação de onças-pintadas a áreas urbanas se tornou mais frequente nos últimos meses. A presença dos felinos mudou a rotina local e levou a medidas de segurança adotadas pela comunidade e pela Polícia Militar Ambiental (PMA).

De acordo com relatos de moradores, PMA e ONGs que atuam no Pantanal, as onças foram avistadas em pelo menos quatro bairros de Corumbá e Ladário:

  • Assentamento 72, em Ladário
  • Baía Negra, uma Área de Proteção Ambiental também de Ladário
  • Região da Cacimba da Saúde, no bairro Cervejaria, em Corumbá
  • Na região do Mirante da Capivara, em Corumbá

Larissa Freitas e outros nove familiares moram no bairro Assentamento 72, em Ladário (MS), às margens do rio Paraguai. Ela relata que os encontros com onças-pintadas aumentaram após os incêndios de 2020, quando o fogo consumiu 26% do bioma e mais de 4,65 bilhões de animais foram afetados.

“Minha sogra mora aqui há mais de 20 anos e isso nunca tinha acontecido. Depois das queimadas, tanto as onças quanto os porcos-do-mato começaram a se aproximar”, conta Larissa.

Alerta após ataque de onça

A população tem ficado mais alerta e com medo após o caso de ataque de onça em que o caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto. O caso aconteceu no dia 21 de abril, no Pantanal de Aquidauana (MS), mas tem refletido em várias regiões.

O documento explica que as aparições de onças na região de Corumbá, por exemplo, ocorre há vários anos. As ocorrências na primeira década dos anos 2000, levaram a Fundação de Meio Ambiente do Pantanal e a Defesa Civil de Corumbá, em parceria com outras instituições, a esboçar um primeiro Plano de Contingência em resposta à ocorrência de grandes felinos na área urbana.

O monitoramento sistemático não foi realizado, mas os dados históricos demonstram que as ocorrências parecem estar relacionadas a eventos de cheia ou incêndios, quando os animais buscam abrigo e presas na área urbana, principalmente nas áreas residenciais mais próximas ao Rio Paraguai.

“A recente mudança de relação com a presença da onça-pintada na região possivelmente se decorreu devido ao recente acidente fatal envolvendo uma onça-pintada na região do Touro-Morto, no Pantanal. O caso foi tratado como de elevado risco de reincidência, dada a alta habituação incomum do animal a humanos, e por isso as autoridades optaram por remover o animal da região, com destinação definitiva ao cativeiro”, informa.

A nota técnica esclarece ainda que apesar da decisão de encaminhar a onça, que supostamente atacou o caseiro, para um cativeiro ter sido técnica e pontual, a população acredita que o manejo pode ser realizado em outras situações, e que a percepção e relação sobre a presença de onças foi alterada devido à ampla divulgação do ocorrido com o caseiro, aliado a desinformação.

Fiscalização

O g1 entrou em contato com Polícia Militar Ambiental (PMA) que disse estar realizando rondas e mantido pontos-base em áreas com maior número de registros de aparições, como é o caso do Mirante da Capivara.

“A PMA tem realizado rondas e mantido pontos-base em áreas com maior número de registros, como o Mirante da Capivara e comunidades ribeirinhas”.

Fonte: G1 MS